A tecnologia avançada utilizada pela Polícia Científica de São Paulo tem sido crucial para a identificação precisa de bebidas adulteradas durante as investigações de intoxicações por metanol no estado.
Desde o registro inicial até a emissão do laudo final, cada garrafa apreendida passa por uma rigorosa série de análises. Isso começa com a verificação de rótulos, selos e lacres no Núcleo de Documentoscopia, seguido por exames químicos no Núcleo de Química, onde os níveis de metanol são identificados e quantificados. Este processo garante firmeza jurídica às investigações e facilitará a responsabilização dos envolvidos na falsificação.
O Governo de São Paulo aumentou as ações contra a falsificação de bebidas devido aos casos recentes. Após a criação de um gabinete de crise na terça-feira (30), operações em várias localidades resultaram na apreensão de milhares de garrafas e lacres suspeitos. Na última sexta-feira (3), por exemplo, mais de mil garrafas de uísque com indícios de falsificação foram confiscadas em Diadema.
A força-tarefa do Governo de São Paulo conta com a colaboração da Polícia Civil, Secretaria da Fazenda, Procon-SP e vigilâncias sanitárias, tanto estadual quanto municipal. Até o momento, 10 estabelecimentos foram interditados de forma cautelar. Esse procedimento é realizado para coletar amostras de bebidas e investigar suspeitas de contaminação por metanol, com a análise final sendo realizada posteriormente pela Polícia Científica. Durante esse período, as interdições podem ser motivadas por questões sanitárias, tais como falta de higiene e problemas no armazenamento.
As etapas de análise têm início na chegada das amostras ao Instituto de Criminalística, após uma fiscalização ou apreensão policial. As bebidas são registradas e encaminhadas ao Núcleo de Documentoscopia, que analisa sinais de adulteração em rótulos e embalagens.
“Um selinho falso é um forte indicativo de que uma garrafa autêntica está sendo reutilizada para líquidos falsificados”, explicou Nícia Harumi Koga, diretora do núcleo. Entre os equipamentos utilizados, destaca-se o Comparador Espectral de Vídeo, que permite verificar alterações em lacres e impressões.
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Após essa fase, as garrafas são enviadas ao Núcleo de Química, onde ocorre a análise mais detalhada do líquido. Este exame revela a presença de metanol e quantifica a concentração. “É essencial não apenas afirmar se há metanol, mas também determinar o quanto está presente, o que exige um procedimento mais meticuloso”, detalhou Alexandre Learth, perito do Centro de Exames, Análises e Pesquisas (CEAP). As análises são realizadas diariamente para acelerar os resultados, dadas as graves consequências dos casos recentes.
Learth acrescentou que as bebidas adulteradas têm apresentado concentrações de metanol significativamente superiores às encontradas em produtos autênticos. A ingestão de apenas 10 ml de metanol pode causar danos ao nervo óptico, e doses de 30 ml ou mais podem ser fatais.
A comparação com amostras originais fornecidas pelos fabricantes também integra a investigação. Isso permite que especialistas verifiquem se a bebida suspeita corresponde a um produto legítimo ou se foi alterada.
Este trabalho não é recente; a Polícia Científica de São Paulo tem realizado análises de bebidas adulteradas por anos, acumulando conhecimento valioso para lidar com a crise atual. “Essa expertise permitiu uma resposta rápida aos novos casos”, disse Learth. Em 2024, mais de 50 mil garrafas já haviam sido apreendidas pela polícia em operações contra a falsificação.
As operações recentes evidenciam a gravidade do problema. Na última semana, 4,5 mil garrafas foram apreendidas em cidades como Barueri, Americana, Dobrada e na capital. “O trabalho da polícia científica é essencial neste momento. O laudo técnico confirma se a bebida é falsificada e se contém metanol em níveis prejudiciais, possibilitando o andamento dos processos judiciais”, enfatizou o perito.
O Governo de São Paulo tem implementado medidas para abordar a intoxicação por metanol, incluindo a interdição provisória de estabelecimentos, a disponibilização de canais rápidos de denúncia, a estruturação do atendimento na rede de saúde e a intensificação das investigações pela Polícia Civil e Secretaria da Fazenda.
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Canais de denúncia
Suspeitas sobre bebidas adulteradas podem ser reportadas pelo Disque Denúncia 181 ou pelo site da Polícia Civil de São Paulo: www.webdenuncia.sp.gov.br/cidadao/crime-acontecendo. O Procon também está disponível para receber denúncias pelo Disk 151 e pelo site www.procon.sp.gov.br, que agora conta com um atalho para questões relacionadas a esses casos.
Recomendações aos consumidores
A intoxicação por metanol é uma condição grave que pode culminar em cegueira permanente ou até morte. O metanol pode ser encontrado em bebidas alcoólicas clandestinas e adulteradas, além de estar presente em combustíveis, solventes e produtos de limpeza.
As unidades de saúde do Estado estão equipadas para lidar com casos de intoxicação. A Secretaria de Saúde recomenda que qualquer pessoa que apresente sintomas incomuns após a ingestão de bebida alcoólica busque atendimento médico imediato, incluindo exames laboratoriais e avaliação oftalmológica. Os sintomas de alerta incluem dores abdominais intensas, tontura e confusão mental. A assistência dentro de 6 horas após o início dos sintomas é crucial para evitar complicações.
O Estado de São Paulo conta com três laboratórios, localizados em Campinas, Botucatu e Ribeirão Preto, que analisam coletas de sangue e urina, com resultados disponíveis em até uma hora.
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