Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), em colaboração com outras instituições científicas do Brasil, estão desenvolvendo sensores vestíveis biodegradáveis para monitorar em tempo real a saúde e as necessidades das plantas nas lavouras. Ao contrário dos métodos tradicionais que utilizam análises pontuais ou drones, esses sensores são aplicados diretamente em folhas, caules ou frutos e coletam dados continuamente, sem afetar o crescimento das plantas.
A tecnologia, reconhecida pelo Fórum Econômico Mundial como uma das 10 mais promissoras para o futuro, é capaz de monitorar níveis de nutrientes, umidade, pH e ainda detectar sinais de doenças, pragas e estresse hídrico. Os detalhes da pesquisa estão publicados na revista científica Analytical Chemistry.
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“Esses dispositivos proporcionam aos agricultores uma ferramenta inovadora para tomarem decisões rápidas e precisas, reduzindo perdas e aumentando a produtividade com menor impacto ambiental”, afirma Paulo Raymundo Pereira, pesquisador do IFSC e coautor do estudo.
A grande inovação está na utilização de materiais biodegradáveis e sustentáveis, como polímeros de amido e celulose, que substituem os plásticos convencionais, minimizando a geração de resíduos tóxicos. Assim, além de facilitarem o manejo agrícola, os sensores contribuem para a redução de impactos ambientais.
A integração com inteligência artificial, Internet das Coisas e análise em nuvem permitirá o processamento automático dos dados. Essa funcionalidade ajudará os agricultores a otimizar a irrigação, a fertilização e até a prever surtos de doenças com base nos padrões identificados.
Precisão
Embora essa tecnologia tenha grande potencial, ainda há desafios, principalmente em garantir que os sensores mantenham sua estabilidade e precisão em condições ambientais extremas, como altas temperaturas, umidade excessiva ou radiação solar. A equipe de pesquisadores também se empenha em tornar esses dispositivos mais acessíveis, especialmente para pequenos produtores.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que cerca de 40% da produção agrícola global é perdida anualmente devido a doenças e condições climáticas adversas, resultando em prejuízos que ultrapassam US$ 220 bilhões. Nesse cenário, os sensores vestíveis têm o potencial de se tornarem uma ferramenta vital para enfrentar o desafio de alimentar uma população projetada para ultrapassar 9,8 bilhões de pessoas até 2050.
Os sensores vestíveis para plantas combinam ciência, tecnologia e sustentabilidade, inaugurando uma nova era na agricultura de precisão. Eles oferecem uma perspectiva promissora para um futuro onde produzir mais significa também causar menos dano ao meio ambiente.
Além de Paulo Raymundo Pereira, os pesquisadores Samiris Côcco Teixeira, Nilda Soares, Taíla Veloso de Oliveira, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Nathalia Gomes, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP e da Embrapa Instrumentação, também assinam este artigo. Este estudo teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
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