Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) analisaram dados de mais de 7 mil brasileiros e descobriram que a aplicação de critérios mais rigorosos para avaliar a fraqueza muscular pode aprimorar a triagem da sarcopenia. Esta condição, frequentemente associada ao envelhecimento, é caracterizada pela perda progressiva de massa e funcionalidade muscular. Essa abordagem também facilita o diagnóstico precoce e ajuda a identificar o risco de mortalidade relacionado à sarcopenia.
A sarcopenia está vinculada à diminuição da funcionalidade em idosos, aumentando as chances de quedas e morte. Segundo o consenso atualizado do European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP2), a sarcopenia é dividida em três estágios: provável sarcopenia (apenas baixa força muscular), sarcopenia propriamente dita (baixa força e massa muscular) e sarcopenia grave (perda de massa e força muscular acompanhada de baixa performance física).
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O estudo, que utilizou dados do Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), comparou a prevalência e os fatores associados à sarcopenia com base nas diretrizes do EWGSOP2 para definir baixa força muscular (força de preensão manual inferior a 27 kg para homens e 16 kg para mulheres) e critérios mais rigorosos (força inferior a 36 kg para homens e 23 kg para mulheres), que têm sido associados a um maior risco de mortalidade em investigações anteriores.
“Avaliar a força da mão é uma maneira simples e econômica de rastrear a sarcopenia. Com critérios mais severos, é possível identificar a condição mais precocemente, aumentando a possibilidade de reversão através de exercícios e nutrição adequada. No campo da gerontologia, é essencial intervir antes que os problemas se agravem. Assim, quanto antes a sarcopenia for diagnosticada, maiores são as chances de evitar quedas, perda de funcionalidade e até mesmo a morte”, explica Tiago da Silva Alexandre, professor da UFSCar e autor do estudo, financiado pela Fapesp.
A implementação de pontos de corte mais altos resultou na inclusão de mais de 2 mil pessoas na triagem de “provável sarcopenia”. “A prevalência desse estágio inicial quadruplicou, passando de 10,6% para 40,1%. A sarcopenia propriamente dita subiu de 1,4% para 5%. A sarcopenia grave mais que dobrou, passando de 3,9% para 8,8%”, relata Sara Souza Lima, bolsista da Fapesp e autora da dissertação de mestrado baseada neste estudo.
Os investigadores destacam que, embora atualmente se adotem os critérios internacionais do EWGSOP2 para diagnosticar a sarcopenia no Brasil, os resultados indicam que esses padrões têm gerado dificuldades. “Em um estudo anterior do nosso grupo, constatamos que o ponto de corte de 36 kg para homens e 23 kg para mulheres era o único capaz de identificar o risco de morte em todos os tipos de sarcopenia”, esclarece.
Desnutrição e sarcopenia
Outra descoberta relevante foi a relação entre desnutrição e sarcopenia grave, que se tornou mais pronunciada ao aplicar os pontos de corte mais altos. Na amostra estudada, 41,5% dos participantes apresentavam risco nutricional e 10% já estavam desnutridos.
“A nutrição é essencial para a saúde muscular, especialmente entre os idosos. Critérios diagnósticos mais sensíveis ajudam a evidenciar o impacto da desnutrição sobre a sarcopenia”, enfatiza Alexandre.
Os pesquisadores notaram que, embora os mesmos indivíduos tenham sido analisados sob ambas as abordagens, fatores clássicos associados à sarcopenia, como idade avançada, baixa renda e sedentarismo, permaneceram consistentes. “A diferença reside na identificação mais precoce do risco de sarcopenia com os limites superiores. Isso ressalta a importância de que os critérios diagnósticos sejam fundamentados em desfechos clínicos relevantes, como a mortalidade, em vez de meramente estatísticas, como no caso do EWGSOP2”, conclui Alexandre.

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