Há dias tenho ensaiado para escrever a respeito desse tema… Escrever sobre amor em dias de crises efervescentes pode ser interpretado como fuga da realidade contudo alerto quem assim pensar: Não se trata de fuga.
Trata-se de coragem. Só os corajosos podem assim agir. Longe de um ato de bravura, compreenda essa minha ‘coragem’ como um ato do coração observando a etimologia dessa palavra com origem no latim, que elucida seu sentido real: cor (coração)+aticum (sufixo
para indicar ação) = agir
com o coração.
Hoje compartilho de uma história de amor. História real de gente como a gente. Comecei a conhecer essa história durante o curso de magistério, precisamente nas aulas de Química com o querido professor Jayme.
Querido não pela matéria/conteúdo da disciplina — ao menos no meu caso, pois tinha muita dificuldade no assunto — e sim pelo homem apaixonado que expressava ser e que anos mais tarde descobri, por meio de sua adorável Dulce, ser mesmo.
Não que não acreditasse em suas palavras, desconfiava confesso. Infelizmente, por serem comuns as brigas entre casais logo, ouvir de um cônjuge — no caso dele — ‘nunca briguei com minha companheira’ é curioso, duvidoso e paradoxalmente um sonho principalmente para jovens moçoilas.
O olhar calmo e sereno do professor ao ver uma de nós, suas alunas, chorando devido as briguinhas ou brigonas de namoro ainda me é tão presente quanto seu conselho: ‘Amor não é isso… Quando vocês o encontrarem, o compreenderão e não aceitarão outra coisa na vida que não seja AMOR!’
Anos se passaram, precisamente uns 15 anos, para que eu conhecesse sua esposa de uma forma inesperada: em meio a uma das campanhas eleitorais das quais participei. Foi por acaso que ela me disse, quando leu em meu ‘santinho’ a escola na qual havia me formado professora, que seu marido havia lecionado química no magistério do Municipal.
Imediatamente as sinapses fizeram com que eu estabelecesse a conexão entre ambos. Ao questionar se era ela a esposa do professor Jayme, ouvi seu ‘sim’ sendo pronunciado em meio a um sorriso e isso trouxe-me alegria e a oportunidade para validar ou não o que o professor
nos dizia.
Ouvi-la dizer que era verdade, que eles nunca tiveram até então uma só briga, uma só discussão, fez aquela minha desconfiança ir embora para ceder lugar a confiança de que o amor acontece, existe na vida real e não somente em contos de fadas.
A partir de então conhecer outras histórias reais e tão lindas passaram a fazer parte da minha existência. Essas histórias chegavam e ainda chegam como se quisessem dizer que ‘há muitas outras’ e isso é muito bom.
É uma pena não dispor de espaço para detalha-las aqui. Outras lindas e verdadeiras histórias como a da senhora Luísa Marcon e o senhor Toledo, moradores da Vila São José, aqui em Taubaté.
É nítido o carinho, o cuidado de um pelo outro e a maneira como expressam amor até em ações simples como o cuidado com as plantas que possuem ao redor da casa. E a história de amor de Jorge Amado e Zélia Gatai? Os poemas, cartas, versos de um para o outro transmitem algo tão bom que não há outra palavra para descrever que não seja amor…
Num deles Jorge diz querer enfeitar o pescoço de Zélia com estrelas… E em um de seus relatos Zélia conta o momento em que selaram um beijo e este tornou-se responsável pela ‘alforria’ do amor que havia entre os dois há tanto tempo contido. Segundo ela, a partir dali, nunca mais teria saído do lado de Jorge e nem
ele do dela…
Enfim, há histórias e o melhor de tudo, há amor. Certa vez ouvi que o amor é o mais belo mas pode ser também o mais temido dos sentimentos. Quando correspondido, maravilhoso.
Quando rejeitado, doloroso. Talvez seja essa a razão dos toltecas, tribo conhecida por habitar há milhares de anos o sul do México, em se dedicar a arte do relacionamento, ao domínio do amor, aconselhando que antes de iniciarmos um relacionamento com o outro, devemos iniciar uma relação de amor próprio, partindo da maneira com que tratamos o nosso próprio corpo, visto que nossas células dependem de nossos cuidados para se desenvolverem saudavelmente.
Para os toltecas, o amor está por toda parte, o amor é vida, é Deus. Preencher-se de amor, de vida, de Deus é a primeira condição para relacionar-se com outro ser e compreender que a felicidade parte primeiramente desse nosso relacionamento íntimo com nós mesmos.
Nessa semana, em que iniciei um novo capítulo da minha história, sinto que todas essas outras histórias, leituras guiaram-me para compreender o sinal ‘Faça o que seu coração disser’ como a chave para um novo e corajoso começo. Somente um ser humano corajoso poderia dizer isso, agir assim…
E somente outro ser humano, também corajoso, poderia ter a sensibilidade para compreender isso como um sinal para caminharem juntos.
Que bom!