Mulher muda a vida de crianças através de um projeto social criado sob um ipê em Taubaté

O ipê-amarelo localizado na rua Brasilina Moreira dos Santos, em Taubaté, São Paulo, é muito mais do que uma árvore. Há trinta anos, ele assistiu ao florescer de um projeto social que transformou a vida de centenas de crianças e adolescentes da região.

Em 1995, Matilde Alves, então com 38 anos, percebeu a vulnerabilidade social que afetava a infância no bairro Jardim Sônia Maria. Motivada pela vontade de mudar essa realidade, ela começou a reunir as crianças sob a sombra do ipê, dando início às atividades lúdicas que se tornariam o Projeto Esperança.

O que começou como um encontro casual sob uma árvore evoluiu para um projeto estruturado, que hoje conta com uma sede própria, próxima ao local original. Atualmente, cerca de 200 crianças e adolescentes frequentam o espaço de segunda a sexta-feira, participando de aulas de música, balé, esportes e recebendo alimentação adequada.

A visão de Matilde cresceu, e, atualmente, o projeto atende 350 jovens, de seis a 18 anos, em quatro bairros de Taubaté. Aos 68 anos, Matilde expressa alegria ao perceber a transformação na vida daqueles que passaram pelo projeto e retornam para retribuir a gratidão.

Nesta sexta-feira, Dia Internacional do Voluntário, a história de Matilde é uma fonte de inspiração. Ela exemplifica como é possível mudar nosso ambiente e a vida das pessoas ao nosso redor, demonstrando que é possível iniciar uma transformação com poucos recursos, mas com muita determinação e amor ao próximo.

“Você olha e diz: ‘valeu a pena’. Em 30 anos de voluntariado, não me arrependo de nada. Tudo foi feito com amor e dedicação. O retorno que você recebe é inexplicável”, afirma Matilde.

Nascida em Taubaté, Matilde sempre se preocupou com o bem-estar dos outros. Sua experiência como catequista a aproximou da realidade das crianças do bairro Sônia Maria, despertando nela o desejo de provocar mudanças significativas. Junto com outras catequistas, ela convidou as crianças a se reunirem sob o ipê-amarelo para atividades recreativas.

“As crianças sentavam na calçada. Usamos um fogão doado pela igreja, e o comércio local contribuía com café e pão. Elas passavam a manhã jogando futebol conosco. Gradualmente, foi surgindo um vínculo forte, o que nos levou à criação de um salão comunitário”, conta Matilde.

A sede do projeto, construída com a ajuda da comunidade e inaugurada em 1997, assinalou um novo capítulo para o Projeto Esperança. No início dos anos 2000, a iniciativa foi formalizada e começou a receber apoio do setor público e privado, complementando seu trabalho voluntário que sempre foi a base do projeto.

O projeto é independente de vínculos religiosos ou políticos. Sua missão é promover a transformação social através do acolhimento e de atividades culturais, esportivas e educacionais. Para participar, as crianças e adolescentes devem estar matriculados na escola.

O Projeto Esperança mantém uma parceria com a Prefeitura de Taubaté, e em outros três bairros onde atua, as atividades são realizadas nas salas dos CRAS (Centros de Referência de Assistência Social).

“É um sonho que se tornou realidade. Debaixo do pé de ipê, isso era apenas um sonho. Hoje, é uma realidade concreta”, destaca Matilde.

Alem de fundadora do Projeto Esperança, Matilde atuou como conselheira tutelar por 24 anos e formou-se em serviço social aos 54 anos. Ela convida todos que se identificam com a causa a se juntar ao projeto como voluntários, oferecendo suas habilidades e tempo em prol do bem-estar das crianças e adolescentes.

“Ser essa pessoa realizada como sou hoje é resultado do trabalho voluntário. Recomendo isso a todos, pois faz um bem imenso. A lei do retorno é justa, e ao se dar, você recebe uma grande paz interior que pode ser compartilhada”, conclui.

Fonte: g1.globo.com