Diagnósticos tardios e a dificuldade de acesso a exames são algumas das principais razões para a alta prevalência do câncer colorretal. A Fundação do Câncer aponta que essas questões podem levar a um aumento da taxa de mortalidade em 36% até 2040, conforme um estudo recente, o que representa uma preocupação significativa para a saúde pública no Brasil. O câncer colorretal é o terceiro mais comum no país, atingindo principalmente homens e mulheres entre 30 e 69 anos, de acordo com o Instituto do Câncer do Ministério da Saúde.
Esse cenário vem gerando um alerta importante: há um aumento no número de casos entre jovens e adultos, uma tendência que contradiz o comportamento esperado da doença. Segundo o professor José Joaquim Ribeiro da Rocha, do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, os hábitos de vida ocidentais, especialmente em relação à alimentação, são fatores relevantes nesse contexto. “Atualmente, nossa dieta é baixa em fibras e rica em carnes processadas e ultraprocessadas, como salsicha, bacon e embutidos. Esses alimentos contêm altos níveis de conservantes, que são prejudiciais à saúde”, explica.
Entre os principais desafios, ele menciona a falta de investimento em tecnologia para rastreamento, as longas esperas para atendimentos e o diagnóstico tardio do câncer. “No Brasil, exames como colonoscopia e pesquisa de sangue oculto nas fezes estão disponíveis, mas a alta demanda resulta em filas de espera, atrasando o diagnóstico e tratamento. Essa situação é ainda mais crítica em regiões com grandes desigualdades sociais, como o Norte e Nordeste”, observa.
Desafios no rastreamento e tratamento
O estudo estima um aumento de 37,63% de câncer colorretal em mulheres e 35% em homens. O especialista acredita que o crescimento entre as mulheres se deve ao diagnóstico tardio. “Elas muitas vezes demoram mais para procurar atendimento médico, realizar exames e têm menos acesso ao sistema de saúde, priorizando as necessidades da família em detrimento da própria saúde. O rastreamento dessa doença, embora necessário, não é tão eficaz quanto as campanhas para prevenção de câncer de mama e colo de útero”, ressalta.
Fatores biológicos e hormonais nas mulheres podem agravar o risco de desenvolver câncer. “Aspectos como obesidade, menopausa e hábitos cotidianos prejudiciais aumentam a probabilidade de surgimento do câncer colorretal nesse grupo.”
O câncer se desenvolve no intestino grosso, afetando o cólon e o reto. Os sintomas comuns incluem sangue nas fezes, alterações nos hábitos intestinais, fraqueza, anemia, perda de peso inexplicada e mudanças na forma das fezes. Esses sintomas são considerados inespecíficos e podem estar associados a condições benignas, como hemorroidas, enfatizando a importância de exames regulares e acompanhamento médico. A maioria dos casos de câncer de cólon não tem uma causa específica, podendo ser resultante de fatores genéticos ou hábitos prejudiciais.
Combater a doença exige prevenção
A chave para combater essa doença passa por adotar hábitos saudáveis. “Aumentar a ingestão de frutas, legumes, grãos e fibras, além de beber bastante água, pode melhorar a saúde intestinal e reduzir a inflamação. Sempre que possível, deve-se minimizar o consumo de carnes vermelhas e produtos ultraprocessados, que são ricos em gorduras, açúcares e conservantes.”
A realização de exames específicos é fundamental para monitorar e prevenir o câncer de cólon. “A prevenção secundária, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes, pode identificar lesões pré-malignas, como pólipos. Com essa detecção, o especialista pode recomendar uma colonoscopia para um diagnóstico mais preciso.”
Diagnóstico precoce pode salvar vidas
O professor ressalta que os exames diagnósticos devem começar aos 45 anos para a população em geral, mas indivíduos com histórico familiar precisam de monitoramento mais rigoroso. “Aqueles com doenças geneticamente transmissíveis que têm potencial de se tornarem malignas, como polipose múltipla, síndrome de Lynch e doenças inflamatórias intestinais, devem ser acompanhados de perto, pois têm maior risco de desenvolver câncer. A colonoscopia pode ajudar na identificação de biópsias e remoção de pólipos”, afirma.
Para mudar esse cenário, é essencial aumentar campanhas de conscientização e alocar recursos para exames. “Gestores e autoridades devem implementar políticas e campanhas informativas sobre a importância do rastreamento do câncer de cólon, semelhantes às realizadas para os cânceres de mama e colo do útero. A criação de centros de referência que possibilitem a realização de exames acessíveis e organizados também é crucial. Países desenvolvidos, como os da Europa, já possuem programas de rastreamento populacional.”
Por fim, o especialista enfatiza: “A educação em saúde, com programas de conscientização para a população e para os profissionais, junto com investimento em saúde, são medidas fundamentais para reduzir o aumento de casos e óbitos por câncer colorretal no Brasil.”
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