Historiadores debatem estátuas e referências no Vale a personagens polêmicos, como bandeirantes e presidentes da ditadura
14 de junho de 2020
Nomes de ruas, praças e avenidas em homenagem a nomes ligados à ditadura e monumentos ligados aos bandeirantes — que na época do Brasil colonial dizimaram muitas tribos indígenas em nome do ‘progresso’ — são muito comuns na região do Vale do Paraíba.
Casos da Avenida Marechal Arthur da Costa e Silva, em Taubaté, ou a avenida Marechal Castelo Branco, no Jardim Bela Vista, em São José dos Campos, são alguns exemplos de homenagens a presidentes do período militar.
Ao redor do mundo, monumentos em homenagem a personagens controversos vem sendo questionados e até derrubados. Caso do comerciante de escravos Edward Colston em Bristol, no oeste de Inglaterra, por exemplo, que foi derrubada e jogada no rio. Ou a estátua do rei Leopoldo 2°, na Bélgica que foi removida pelo próprio governo — ele teria sido responsável pela morte de 10 milhões de congoleses, na África, no século 19.
Na região, um deles é o monumento dos Bandeirantes na entrada de Taubaté. “A estátua de Jacques Félix já foi bastante discutida com a revisão da figura do bandeirante nas últimas décadas pela historiografia brasileira”, disse Rachel Duarte Abdala, professora de História da Unitau (Universidade de Taubaté) e da Faculdade de Educação da USP, lembrando ainda que o distrito de Moreira César, em Pindamonhangaba, leva o nome de um coronel do Exército que atuou na Revolta de Canudos e ficou conhecido como “corta-cabeças” pelos escravos.
“Aqui na região, a figura se destaca em nomes de ruas, de avenidas, de estátuas e inclusive do Batalhão do Exército, como e o caso do Batalhão Borba Gato, em Pindamonhangaba”, ressalta.
Nas últimas décadas, historiadores, estudiosos e entidades sociais têm discutido essa questão devido à reflexão sobre o papel dessas figuras na história. “Em Pindamonhangaba tem o distrito de Moreira César. Essa homenagem é bastante controversa porque Moreira César foi coronel do Exército Brasileiro e atuou na Revolta de Canudos, onde ficou conhecido como corta-cabeças pelos escravos”.
“Mais do que derrubar estátuas deve-se derrubar preconceitos e posturas racistas, por exemplo. Mas derrubar estátuas é um sinal da vontade social de não perpetuar imagens negativas”.
PONTE.
Para Pedro Rubim, do Almanaque Urupês, é importante sempre fazer uma “ponte” entre a realidade atual e a história dos monumentos. “A gente precisa entender que os monumentos falam sobre a própria sociedade. É importante entender o contexto. Sou a favor do debate”.
Ele cita até a estátua de Monteiro Lobato, em Taubaté. “Existe uma discussão profunda sobre o racismo de Monteiro Lobato. Não é uma coisa nova. Temos que criar pontos de discussão para amadurecer”, afirma.
Maria Aparecida Papali, doutora em História Social, professora na Univap, em São José dos Campos, ressalta que os monumentos em homenagem aos bandeirantes são controversos. “Embora tenham contribuído com a interiorização do Brasil, foram os maiores escravizadores dos nossos indígenas”, ressalta.
Segundo ela, a releitura é importante. “Um monumento é uma homenagem que a sociedade presta a algumas pessoas. Será que traficantes de escravos merecem a homenagem? Na minha opinião, não. Representam triste momento da história”..