Não se deixe enganar, caro leitor: a guerra do Palácio do Planalto e do PT contra as instituições financeiras que fazem avaliações pessimistas sobre a economia brasileira é de caso pensado. Como manda a cartilha do PT, adotada com eficácia pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os governistas precisam construir vilões para legitimar o projeto de mais quatro anos de poder e nada mais adequado do que recorrer ao velho fantasma da banca.
Para o bem da verdade, esse fantasma tem uma razão de existir.
Houve um tempo em que a prática de ataques especulativos ao país era freqüente nos períodos eleitorais, com a participação de gente como o megainvestidor George Soros. Os especuladores valiam-se do consideravam imaturidade do eleitor brasileiro e da fragilidade dos pressupostos da economia para ganhar muito dinheiro apostando suas fichas contra os candidatos de oposição. Não era um jogo político, mas apenas uma especulação escrachada contra a economia e o bolso dos brasileiros.
A realidade atual é bem diferente.
A democracia brasileira está consolidada e madura. A economia brasileira se estruturou ao longo dos últimos anos, ancorada por fatores como a estabilidade da moeda (obtida graças aos governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula, pelo menos em seu primeiro mandato), a obtenção do grau de investimento e o lastro das reservas internacionais.
Isso não significa que o eleitor brasileiro e os analistas econômicos estejam alheios às dificuldades conjunturais enfrentadas pelo país.
É com base nestes obstáculos que as instituições financeiras, tradicionalmente, fazem suas projeções eleitorais e análises de mercado. Pior para a presidente Dilma Rousseff (PT)? Só se o PT passou a acreditar que banca rende mais votos que o Bolsa-Família, coisa inaceitável para qualquer analista político e para qualquer político bom de urna. Bobagem, sabem muito bens as velhas raposas da política.
No passado recente, o cenário econômico já foi positivo e negativo para o PT.
Na reeleição de Lula e na obtenção do primeiro mandato de Dilma, apresentada por ele como a mãe do PAC, a boa avaliação da economia foi decisiva para o sucesso dos sonhos petistas. Anteriormente, com efeito contrário para o PT, o Plano Real garantiu a eleição e a reeleição de FHC. Em resumo, quando a economia vai bem, o voto é quase sempre favorável ao governo. Quando a economia vai mal, o voto geralmente é contra. A Gazeta de Taubaté já lembrou neste espaço a frase-síntese de James Carville, estrategista da primeira campanha vitoriosa de Bill Clinton: é a economia, estúpido, que decide uma eleição.
E, 10 entre cada 10 brasileiros, à exceção de Dilma, segundo ficou patente em sabatina feita esta semana, no Palácio do Planalto, sabem: a economia não vai bem, a inflação teima em tentar sair do controle e o salário dos brasileiros está perdendo poder aquisitivo mês após mês. Não é necessário que nenhuma instituição financeira diga isso ao trabalhador, à dona de casa, ao aposentado e ao estudante. Todos sabem. Agora, em relação às expectativas da banca, quem está à frente do governo normalmente se beneficia do fator estabilidade –mudanças políticas são sempre encaradas com temor pelo mercado financeiro. Resumindo, se há uma inversão de cenário em curso, deve-se, sobretudo, à instabilidade da política econômica do governo federal.