Dia Mundial de Conscientização sobre Vítimas de Trânsito: Ciclista Colhido por Carro Aponta Falta de Consciência entre Motoristas.

Fernando dos Santos, um ciclista por paixão, transformou a diversão em profissão. Após pedaladas pelo Uruguai e Bahia, em 2018, ele trocou a moto que usava desde 2009 por entregas de bicicleta. Essa mudança não só reduziu seus custos, mas também lhe trouxe uma sensação de segurança ao pedalar em uma velocidade mais baixa. Contudo, no início de 2023, essa segurança foi desafiada quando um carro invadiu a ciclovia na avenida Rebouças em São Paulo, atingindo sua companheira enquanto pedalavam. Este incidente fez de Fernando um símbolo da responsabilidade compartilhada no trânsito. Neste Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, celebrado no terceiro domingo de novembro, ele enfatiza a necessidade de um esforço coletivo para melhorar a conscientização dos motoristas: “Ainda falta consciência a muitos motoristas”, comenta.

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Fernando, que pedala entre 60 e 90 km diariamente pela capital, enfrenta um desafio constante: dividir espaço com veículos, que têm uma vantagem significativa. “É um grande desgaste”. Para ele, mais ciclovias são essenciais, mas também é necessário projetar vias que ofereçam proteção adequada aos ciclistas, baseando-se em sua experiência e interações com outros ciclistas.

Esse contexto está alinhado com o 1º Plano de Segurança Viária do Estado de São Paulo (PSV-SP), que recentemente passou por consulta pública e em breve será publicado em sua versão final, considerando as sugestões da sociedade. O PSV-SP abrange ações para criar um desenho viário seguro, utilizando um guia técnico que atualiza diretrizes para infraestrutura viária, minimizando assim os riscos de acidentes.

Além disso, o plano inclui a elaboração de um Plano Cicloviário Estadual, que visa estabelecer uma rede de ciclovias conectadas e seguras, integradas às áreas urbanas e ao transporte coletivo, reconhecendo o ciclista como uma parte fundamental da mobilidade urbana e da segurança viária.

O PSV-SP, que segue as diretrizes do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), recebeu contribuições de várias entidades, incluindo o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) e representantes da sociedade civil. A consulta pública realizada entre setembro e outubro deste ano ajudou a aprimorar o plano, que foi coordenado pelo Sistema Estadual de Trânsito (Sistran-SP).

Além das contribuições populares, o Ciclo Comitê Paulista (CCP), composto por representantes do movimento cicloviário, desempenhou um papel importante na formulação do plano, focando nas questões de vulnerabilidade dos ciclistas. O grupo, que inclui membros do governo e da sociedade civil, busca promover os direitos e a segurança dos ciclistas, além de desenvolver rotas e ciclovias. O CCP conta com representantes do Detran-SP, do Departamento de Estradas e Rodagem (DER-SP) e da Polícia Militar Rodoviária.

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“O plano foi elaborado de forma colaborativa. No Ciclo Comitê Paulista, analisamos as principais questões relacionadas à segurança dos ciclistas. A falta de infraestrutura adequada nas vias representa uma grave vulnerabilidade. O plano traz um foco em garantir a segurança daqueles que se deslocam de bicicleta tanto em áreas urbanas quanto em rodovias. O aumento do uso da bicicleta como meio de transporte em grandes cidades é evidente, assim como seu uso em regiões rurais e litorâneas. Utilizamos dados para identificar os pontos críticos em termos de acidentes, além de enfatizarmos a educação e a conscientização”, afirma André Vinícius Garcia, coordenador do Ciclo Comitê Paulista da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo (Semil).

O objetivo é salvar vidas

Apesar dos riscos do trânsito, que motivam a elaboração do 1º Plano de Segurança Viária do Estado de São Paulo, a capital vem registrando uma redução nas mortes de ciclistas em 2025. De janeiro a setembro, foram 22 mortes, comparado a 33 no ano anterior, representando uma diminuição de 33%. No estado, a redução foi de apenas 5,4%. O plano mira salvar 19 mil vidas nos próximos cinco anos, com a ambição de reduzir pela metade o número de óbitos entre 2026 e 2030. O plano também trata dos altos custos que os acidentes de trânsito impõem ao estado, que somaram mais de R$ 12 bilhões em 2024, segundo estimativas do Detran-SP.

“Estamos desenvolvendo um plano abrangente, que considera todos os aspectos, da saúde à educação, da acessibilidade à economia. A segurança no trânsito é uma construção conjunta, e a atenção a cada detalhe é crucial para efetivar as propostas, priorizando a preservação da vida”, diz Roberta Mantovani, diretora de Segurança Viária do Detran-SP.

Fernando, após o acidente que quase lhe custou a vida, uniu-se a outros entregadores em uma cooperativa, onde ganhou mais controle sobre seu trabalho. Com isso, ele aprendeu a valorizar seus limites e a não se deixar levar pela ansiedade. O incidente não afastou sua paixão pela bicicleta; pelo contrário, ele agora compete e, nesse mesmo ano, percorreu a Transamazônica com sua companheira Iara Brito. Juntos, sonham em criar seu filho, Jorge, como um futuro ciclista: “Estou apenas esperando ele crescer um pouco para que possamos viajar juntos”, comenta.