Todo organismo passa por um ciclo de vida: nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Contudo, algumas raras espécies desafiam esse ciclo, apresentando a incrível habilidade de evitar o envelhecimento e, por consequência, a morte. Entre elas, destacam-se a Hydra vulgaris, um pequeno invertebrado de águas doces, e a Turritopsis dohrnii, uma água-viva do Mediterrâneo.
Esses animais se diferenciam dos demais por conseguirem escapar do processo de senescência, que reduz a capacidade celular de divisão e renovação. Segundo Mônica Lopes-Ferreira, pesquisadora do Instituto Butantan, se não forem predados ou enfrentarem catástrofes ambientais, esses organismos podem viver indefinidamente, o que é conhecido como imortalidade biológica.
O segredo da longevidade
O envelhecimento celular, um aspecto intrínseco à vida humana, foi explanado pelo médico Leonard Hayflick nos anos 60. Ele descobriu que as células humanas têm um “relógio biológico” que limita suas divisões a cerca de 40 a 60 vezes, após o que entram em senescência, promovendo o envelhecimento e doenças relacionadas.
A imortalidade só seria possível com uma tecnologia de reparo celular que restaurante as células ao seu estado jovem. A Hydra vulgaris se destaca por renovar todas as suas células a cada 20 dias, incluindo as células-tronco, essenciais para regeneração. Essas células estão em constante estágio inicial, permitindo transformações em diversos tipos celulares, ao contrário dos humanos, que têm células-tronco em áreas específicas que perdem adaptabilidade com a idade.
Além de evitar o acúmulo de danos do envelhecimento, a H. vulgaris pode se regenerar se for desmembrada. Seu nome remete à Hidra de Lerna, uma serpente mitológica que renascia ao ter suas cabeças cortadas. Mônica Lopes-Ferreira ressalta que essa espécie, aparentemente simples, esconde pérolas de conhecimento.
Outro organismo fascinante é a Turritopsis dohrnii, a “água-viva viajante do tempo”, que pode reverter seu ciclo de vida em resposta a adversidades, tornando-se pólipo novamente, similar a um girino voltando à fase de larva.
O mistério do rejuvenescimento da água-viva envolve a abundância de células-tronco em seu organismo e genes duplicados que podem contribuir para um mecanismo de reparo eficiente do DNA, conforme sugerido pelos estudos.
Longevidade em outras espécies
Vários organismos apresentam indícios de imortalidade. O tubarão-da-groenlândia (Somniosus microcephalus), por exemplo, pode viver até 400 anos, com alguns indivíduos ultrapassando 500, devido a seu metabolismo extremamente lento e longa maturação sexual que leva 150 anos.
Na microescala, a planária, um pequeno verme, também é conhecida por sua capacidade regenerativa; cada fragmento cortado pode dar origem a um novo ser, graças às suas células-tronco.
Possíveis aplicações na medicina
A busca pela longevidade é uma constante na história da humanidade, e a esperança de superar os limites da vida humana pode ser encontrada em tecnologias que reparariam os danos celulares do envelhecimento. A pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira acredita que as características dessas espécies possam levar ao desenvolvimento de novos fármacos, embora isso exija tempo e mapeamento genético.
Os estudos da Hydra vulgaris e da Turritopsis dohrnii têm grande potencial para novas abordagens no tratamento de doenças degenerativas,como Alzheimer e Parkinson, além de possibilitar avanços no uso de células-tronco para combater o câncer e tratar lesões.
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