Casos de degeneração macular que podem causar perda de visão após os 50 anos devem triplicar nas próximas décadas e acendem alerta para cuidados com a saúde ocular

Um problema silencioso e muitas vezes ignorado na rotina dos brasileiros está prestes a se tornar uma das maiores causas de perda visual entre adultos com mais de 50 anos. A degeneração macular relacionada à idade (DMRI), doença que afeta a retina e pode comprometer a visão central de forma irreversível, está em franca expansão. Especialistas alertam que os casos devem triplicar até 2050, impulsionados pelo envelhecimento populacional, maior exposição a fatores de risco e baixa adesão a exames preventivos.

Casos de degeneração macular que podem causar perda de visão após os 50 anos devem triplicar nas próximas décadas e acendem alerta para cuidados com a saúde ocular

Degeneração macular é a principal causa de perda de visão após os 60 anos

A degeneração macular relacionada à idade é uma condição degenerativa que afeta a mácula, estrutura localizada no centro da retina. Essa região é responsável pela visão de detalhes finos, como leitura, escrita, costura, uso de celulares e reconhecimento de rostos. Quando a mácula sofre alterações, o paciente perde progressivamente a capacidade de enxergar com nitidez, mesmo mantendo a visão periférica intacta.

Segundo estudos epidemiológicos recentes, cerca de 196 milhões de pessoas já convivem com algum estágio da DMRI no mundo. Esse número deve ultrapassar 280 milhões até 2050, com maior incidência entre os maiores de 60 anos. No Brasil, a estimativa é de que mais de 2 milhões de pessoas sejam afetadas, embora muitos casos ainda não tenham diagnóstico formal.

O crescimento está diretamente relacionado ao aumento da expectativa de vida, à urbanização, ao consumo de alimentos ultraprocessados e à exposição prolongada à luz azul de telas digitais e radiação solar sem proteção adequada.

O que causa a degeneração macular após os 50 anos

Embora a idade seja o principal fator de risco, a degeneração macular tem origem multifatorial. A combinação de predisposição genética com hábitos modernos desfavoráveis acelera a deterioração da mácula e pode antecipar os sintomas em adultos ainda na faixa dos 50 ou 60 anos. Entre os fatores que aumentam significativamente o risco da doença estão:

  • Histórico familiar de DMRI
  • Exposição solar sem óculos com proteção ultravioleta
  • Tabagismo ativo ou passivo
  • Pressão arterial elevada e doenças cardiovasculares
  • Níveis elevados de colesterol e triglicerídeos
  • Diabetes mellitus tipo 2
  • Obesidade e sedentarismo
  • Dieta pobre em vegetais verdes escuros, frutas vermelhas e peixes
  • Uso crônico de dispositivos eletrônicos com exposição à luz azul

O acúmulo de radicais livres e o estresse oxidativo são mecanismos centrais na progressão da doença, afetando diretamente as células da mácula e reduzindo sua capacidade de regeneração.

Como identificar os sintomas precoces e buscar ajuda médica

A DMRI avança de forma lenta e muitas vezes sem sintomas nas fases iniciais. Isso torna a detecção precoce mais difícil e exige atenção redobrada a qualquer mudança sutil na qualidade da visão. Os principais sinais de alerta são:

  • Dificuldade de enxergar detalhes finos mesmo com óculos atualizados
  • Percepção de linhas retas como curvas ou onduladas
  • Visão embaçada na região central do campo visual
  • Sensação de que algumas letras somem ou ficam borradas ao ler
  • Necessidade de aumentar a iluminação para ler ou usar o celular
  • Manchas escuras que aparecem no centro da visão
  • Alterações na percepção de cores

Esses sintomas costumam surgir em um dos olhos e passam despercebidos porque o outro olho ainda compensa a perda. Quando ambos os olhos são afetados, a perda de qualidade visual se torna evidente e pode comprometer atividades cotidianas básicas.

Os dois tipos de degeneração macular e como evoluem

A degeneração macular se divide em duas formas clínicas, com características, gravidade e tratamentos diferentes. Entender essa diferenciação é essencial para o acompanhamento adequado.

-Forma seca ou atrófica

 É a mais comum e representa aproximadamente 85 por cento dos casos. Caracteriza-se pelo desgaste gradual da mácula, com acúmulo de depósitos chamados drusas. Evolui de maneira lenta e progressiva, podendo levar anos até comprometer a visão de forma relevante.

-Forma úmida ou exsudativa

 Mais rara e agressiva, é responsável por 90 por cento dos casos de perda visual severa relacionados à DMRI. Caracteriza-se pelo crescimento anormal de vasos sanguíneos sob a retina, que rompem, sangram e acumulam líquido, provocando dano acelerado à mácula.

A forma úmida requer intervenção médica imediata. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de preservar a visão.

Diagnóstico precoce é a melhor forma de evitar danos irreversíveis

O diagnóstico da DMRI é feito por meio de exames oftalmológicos especializados, que devem fazer parte da rotina de quem tem mais de 50 anos. Os principais testes incluem:

Mapeamento de retina com dilatação pupilar

Tomografia de coerência óptica (OCT), que permite visualizar todas as camadas da mácula

Angiografia com contraste para analisar vasos sanguíneos da retina

Teste de Amsler, que detecta distorções visuais simples de realizar em casa

O ideal é realizar consultas anuais a partir dos 50 anos ou com maior frequência caso haja histórico familiar ou sintomas iniciais.

Tratamentos atuais para controlar a degeneração macular

O tratamento varia conforme o tipo e a gravidade da doença. No caso da forma seca, o objetivo é retardar a progressão. Na forma úmida, os avanços terapêuticos têm permitido resultados expressivos na preservação da visão.

Na forma seca
Uso de suplementos antioxidantes com vitaminas C e E, zinco, cobre, luteína e zeaxantina

Mudança de hábitos alimentares com aumento da ingestão de frutas, vegetais e ômega 3

Controle rigoroso de doenças crônicas associadas como hipertensão e diabetes

Evitar fumo e adotar óculos com proteção ultravioleta

Na forma úmida
Aplicações intravítreas de medicamentos antiangiogênicos diretamente no globo ocular

Esses medicamentos bloqueiam o crescimento dos vasos anormais e reduzem o acúmulo de fluido sob a retina

O número de aplicações varia conforme a resposta de cada paciente, sendo comum a realização de três a seis aplicações nos primeiros meses

Estudos clínicos em andamento também avaliam o uso de terapias genéticas e implantes subretinianos para casos avançados

Quanto custa tratar a degeneração macular

O tratamento da DMRI pode representar um custo elevado no setor privado, especialmente na forma úmida. O valor de cada injeção intravítrea varia entre R$ 2.500 e R$ 5.000, dependendo do medicamento utilizado. Isso sem contar os exames de acompanhamento, que podem somar mais de R$ 1.000 por mês.

Felizmente, o Sistema Único de Saúde oferece cobertura integral para o tratamento da DMRI úmida em centros especializados. Já os planos de saúde são obrigados a cobrir tanto as aplicações quanto os exames relacionados, desde que haja prescrição médica com base nos protocolos clínicos reconhecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.

O que fazer para prevenir a doença ou retardar sua evolução

A prevenção da DMRI deve começar ainda antes dos 50 anos, com o controle rigoroso dos fatores de risco. Adotar um estilo de vida saudável pode reduzir em até 30 por cento a probabilidade de desenvolver a forma seca da doença e retardar a progressão da forma úmida. Algumas medidas eficazes incluem:

  • Evitar o cigarro em qualquer quantidade
  • Usar óculos escuros com proteção UVA e UVB ao sair de casa
  • Reduzir o consumo de alimentos gordurosos e ultraprocessados
  • Priorizar frutas cítricas, vegetais de folhas escuras e peixes ricos em ômega 3
  • Praticar exercícios físicos regularmente com orientação médica
  • Controlar rigorosamente a pressão arterial, o colesterol e a glicemia
  • Realizar acompanhamento oftalmológico periódico com exames de imagem

Manter a mente ativa com leitura, palavras cruzadas e atividades que estimulem a percepção visual

Projeções indicam que triplicará o número de pessoas com degeneração macular

Estudos internacionais apontam que o número de pessoas com DMRI pode triplicar nas próximas décadas. O envelhecimento populacional, aliado ao estilo de vida urbano e ao uso crescente de telas digitais, são os principais vetores desse crescimento.

Essa realidade coloca pressão sobre os sistemas de saúde pública e privada, que precisarão investir em diagnóstico precoce, ampliar o acesso ao tratamento e promover campanhas de prevenção mais eficazes para proteger a visão da população idosa.

Considerações finais

A degeneração macular relacionada à idade é uma das doenças oculares mais impactantes da atualidade e deve atingir proporções ainda maiores nos próximos anos. O avanço silencioso da doença, aliado à falta de sintomas evidentes no início, faz com que muitos pacientes só busquem ajuda quando já há perda visual significativa.

Manter um estilo de vida saudável, realizar exames oftalmológicos regularmente e procurar atendimento especializado ao menor sinal de distorção visual são atitudes essenciais para proteger a visão após os 50 anos. A prevenção ainda é a melhor forma de preservar a autonomia e a qualidade de vida na terceira idade.

Se você tem mais de 50 anos ou possui histórico familiar de problemas na retina, marque uma consulta com um oftalmologista de confiança. Cuidar da mácula é cuidar do seu futuro visual.