O isopor, conhecido como poliestireno expandido (EPS), é amplamente utilizado na fabricação de embalagens, especialmente para alimentos. Isso se deve às suas propriedades de proteção, leveza, custo acessível e capacidade de isolamento térmico. No entanto, devido ao seu derivado do petróleo, representa um sério risco ambiental, levando centenas de anos para se decompor e, quando descartado inadequadamente, prejudicando ecossistemas inteiros.
Em busca de alternativas sustentáveis ao isopor, pesquisadores do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP desenvolveram protótipos de bandejas com as principais características do EPS para o armazenamento e transporte de alimentos, que são também biodegradáveis.
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Esses novos protótipos utilizam duas substâncias principais: amido (um polímero biodegradável) e cúrcuma (um subproduto vegetal). O amido gera espuma que, ao ser misturada com cúrcuma, melhora a consistência do material, aumentando a resistência à água e o isolamento térmico, sem prejudicar o meio ambiente.
Guilherme José Aguilar, principal pesquisador do projeto, destaca que as bandejas biodegradáveis oferecem vantagens ecológicas em relação ao EPS: “As bandejas de amido com cúrcuma são derivadas de fontes renováveis, totalmente biodegradáveis e se decompõem rapidamente na natureza.” Ele também observa que o EPS pode se fragmentar em microplásticos, que permanecem no ambiente por séculos, afetando a vida marinha e a saúde humana.
Alternativa eficaz para alimentos perecíveis e fast food
Orientado pela professora Delia Rita Tapia Blácido, Aguilar elaborou os protótipos de bandejas com uma formulação que inclui amido de mandioca e resíduo de cúrcuma, além de glicerol, goma guar, estearato de magnésio e água. Um termoprensa industrial foi utilizada para moldar os materiais sob pressão e calor.
O estudo testou quatro proporções de amido/cúrcuma: 100:0 (controle, sem resíduo), 90:10, 80:20 e 70:30. Essas variações permitiram avaliar como a quantidade de cúrcuma afetava as propriedades dos protótipos, que foram comparados com bandejas de isopor quanto à biodegradabilidade, resistência à água e calor.
Os resultados indicaram que a adição de cúrcuma reduziu a absorção de água e aumentou a repelência a líquidos. Embora as bandejas de amido não sejam totalmente impermeáveis como as de EPS, elas mostraram melhor resistência mecânica e menor alongamento. Em relação ao calor, os protótipos começaram a deteriorar a partir de 250°C, sendo recomendados para temperaturas de até 100°C, ideais para fast food e alimentos perecíveis que não requerem temperaturas extremas.
O teste de biodegradabilidade foi um ponto focal da pesquisa. Amostras das bandejas foram enterradas em solo orgânico por 31 dias. A bandeja 100% de amido degradou-se em apenas 14 dias, enquanto aquelas com cúrcuma levaram entre 28 e 31 dias. Em contraste, a bandeja de EPS não apresentou degradação alguma, evidenciando que as bandejas de amido e cúrcuma são uma alternativa mais sustentável.
Potencial comercial significativo
Com base nos resultados, conforme detalhado em artigo na Journal of Cleaner Production, Aguilar acredita que há um grande potencial para o produto no mercado, especialmente em áreas que priorizam soluções sustentáveis em embalagens descartáveis. A fórmula 90:10 foi identificada como a que melhor equilibra resistência mecânica, impermeabilidade e biodegradabilidade, embora o material ainda necessite de testes adicionais.
Os próximos passos do estudo incluem testes em escala industrial para confirmar o desempenho do material em condições reais e uma análise econômica para garantir sua competitividade. Também será investigado como o material reage em contato com alimentos, assegurando sua segurança e funcionalidade”, conclui Aguilar.
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