Pouca gente sabe, mas a alcachofra é, na verdade, uma flor. Colhida antes de se abrir totalmente, com suas pétalas ainda a proteger um coração macio e saboroso, ela se transforma em um dos ingredientes mais valorizados da gastronomia e se tornou um símbolo da agricultura paulista.
Em São Paulo, essa flor ocupa a maior área de cultivo do Brasil. O município de Piedade, localizado no interior do estado, é responsável por cerca de 90% da produção nacional, consolidando-se como a capital brasileira da alcachofra. Nesta região, tradição e conhecimento se entrelaçam há gerações, e foram de lá que as mudas que abastecem produtores em todo o país foram originadas.
A cultura da alcachofra é parte essencial da identidade local. “Embora sejam poucos os produtores, eles têm grande relevância para o Brasil. Nossa alcachofra é reconhecida pela qualidade, resultado de décadas de dedicação e cuidados”, destaca Otávio Freitas Neves, produtor de Piedade e herdeiro de uma família que cultiva a flor há mais de 60 anos.
Com um clima ameno e solo fértil, a cidade oferece condições ideais para o cultivo. A colheita normalmente acontece uma vez por ano, mas técnicas de indução hormonal permitem uma segunda safra, aumentando a produtividade e o abastecimento. Dada sua versatilidade, a alcachofra brilha na gastronomia, sendo utilizada em pratos sofisticados e simples, sempre ressaltando o sabor autêntico paulista.
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) reconhece essa importância e oferece apoio aos produtores por meio da Diretoria de Assistência Técnica Integral (CATI), fornecendo orientações, acesso a crédito rural, suporte para regularização ambiental e incentivo à comercialização em programas institucionais, como a merenda escolar.
Além do suporte técnico, São Paulo investe em pesquisa e inovação para preservar a tradição da alcachofra. Na Apta Regional de São Roque, próxima a Piedade, uma equipe trabalha para modernizar o cultivo e recuperar o vigor genético da tradicional alcachofra “Roxa de São Roque”. O projeto, coordenado pelo pesquisador Wilson Tivelli, começou em 2010 e ganhou força em 2020, em colaboração com o Instituto Biológico (IB-Apta) e a CATI Sementes e Mudas.
Após décadas de multiplicação vegetativa, a planta havia perdido potência devido à contaminação por vírus. A iniciativa incluiu a identificação dos vírus presentes nas plantas, limpeza do material genético em laboratório e produção de novas mudas livres de contaminação. Em 2023, essas mudas foram reintroduzidas no campo, em dois sistemas de cultivo: o tradicional, com linhas simples, e um modelo experimental em linhas duplas, visando aumentar a densidade de plantio e, consequentemente, a rentabilidade dos produtores.
“O objetivo é garantir que a alcachofra permaneça um ícone cultural e econômico de São Roque e de toda a região, unindo tradição, ciência e inovação”, afirma Tivelli.

Leave a Comment