Infraestrutura como impulsionadora da sustentabilidade é o foco de painel no Summit Agenda SP + Verde.

A infraestrutura deve ser vista como uma alavanca poderosa para a sustentabilidade, não como um obstáculo. Essa foi a ideia central discutida por especialistas e representantes do governo paulista durante o painel “Construindo Futuros Sustentáveis: A Infraestrutura como Agente de Transformação”, ocorrido nesta quinta-feira (4) no Summit Agenda SP +Verde. O debate enfatizou a importância de um planejamento integrado, que associe concessões, recuperação ambiental e uma perspectiva de longo prazo.

O evento, mediado por Marcelo Donnini Freire, Presidente do ICT Sigma, contou com a participação de Natália Resende, Secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil); Brendon Ramos, CEO da Via Appia; Carlos Piani, CEO da Sabesp; e a palestrante Natalia Marcassa.

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Ao iniciar as discussões, Marcelo Freire ressaltou a conexão inseparável entre desenvolvimento e meio ambiente. “Os frutos do ser humano são também frutos do meio ambiente”, afirmou.

Planejamento – A secretária Natália Resende enfatizou o empenho do governo em evidenciar na prática como o meio ambiente impacta o cotidiano da população. Ela destacou que um ambiente urbano necessita de infraestrutura com planejamento detalhado, tanto em modelos de concessão quanto em soluções sustentáveis. “Precisamos discutir planejamento e recuperação”, afirmou, sublinhando a importância de abordar tanto novas construções quanto a remediação de passivos ambientais.

Um dos principais pontos abordados por Resende foi a proposta de uma matriz de transporte multimodal, uma vez que o estado depende excessivamente do modal rodoviário. “A matriz de transporte no Brasil é fortemente baseada em rodovias, e precisamos considerar como equilibrar os diferentes modos de transporte em uma lógica sustentável”, disse.

A secretária exemplificou como a infraestrutura de transporte pode ser projetada para reduzir impactos: “Quando falamos de rodovias, também discutimos passagens de fauna, restauração, drenagem, etc.”. Destacou o conceito de “investimentos cruzados”, uma estratégia que busca sinergia entre diferentes projetos, onde os recursos gerados por uma obra potencializam benefícios em outras, criando um ecossistema de desenvolvimento mais eficiente e com menor custo ambiental.

Natália também mencionou um estudo realizado com a Fiesp, que identificou um potencial de produção de biometano capaz de atender 40% da demanda da indústria paulista. Em relação à gestão de resíduos, ela destacou o programa Integra Resíduos, que visa mitigar os custos do lixo nos municípios. “Cerca de 199 municípios paulistas precisam transportar lixo por mais de 50 km. Isso sobrecarrega nossas rodovias e aumenta a emissão de carbono. E isso afeta o meio ambiente”, argumentou, defendendo a necessidade de soluções em larga escala.

Frota – A Via Appia, representada por seu CEO Brendon Ramos, anunciou planos para eletrificar sua frota operacional, posicionando-se como a primeira concessionária de rodovias no Brasil a ter uma frota 100% elétrica até o final de 2026, visando a neutralidade de carbono.

“Nosso valor fundamental é o respeito à vida em todas as suas formas. Em nossas operações, buscamos capital que retorne ao social”, declarou Ramos. Ele citou iniciativas de recreação desenvolvidas em parceria com comunidades próximas ao Rodoanel, ressaltando que tais ações vão além do marketing, sendo uma necessidade para as empresas atualmente.

Saneamento – Carlos Piani, CEO da Sabesp, destacou o grande desafio no saneamento básico: 90 milhões de brasileiros ainda carecem de acesso à coleta e tratamento de esgoto, um déficit que requer cerca de R$ 900 bilhões em investimentos para ser resolvido. Diante dessa situação, Piani anunciou que a companhia se antecipou em quatro anos na meta de universalizar o serviço em São Paulo.

“Nosso objetivo é alcançar esses resultados com valorização ambiental”, afirmou. O executivo apontou um dos principais desafios do setor: o elevado consumo de energia. “O setor de saneamento é altamente intensivo em energia elétrica e estamos trabalhando arduamente para limpar nossa matriz energética”. A Sabesp desenvolveu um projeto audacioso para gerar 60% da energia que consome a partir de fontes renováveis.

Mais ferrovias – Natalia Marcassa, palestrante do evento, destacou avanços na infraestrutura ferroviária em São Paulo, abordando a eficiência energética dos vagões. Ela mencionou a construção da primeira ferrovia greenfield de 740 km no Mato Grosso, cuja primeira etapa será concluída em junho, partindo de Rondonópolis. Este projeto visa reduzir as emissões de carbono do transporte rodoviário de cargas. Marcassa também apontou que a empresa fará “investimentos robustos” em São Paulo este ano para expandir suas capacidades.

A executiva também discutiu os custos do setor: “Um quilômetro de ferrovia custa R$ 25 milhões, que é relativamente mais caro do que os R$ 20 milhões por km do Rodoanel. Portanto, com a iniciativa privada, não resta dúvida de que o setor público tem um papel crucial em fomentar políticas públicas e oferecer financiamentos menores”, concluiu, reforçando a importância das parcerias público-privadas.