O Governo de São Paulo está liderando esforços significativos na luta contra crimes virtuais que afetam crianças e adolescentes, resultando na proteção de mais de 310 vítimas desde que o Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) foi criado em novembro de 2024. Essa iniciativa, parte da Secretaria da Segurança Pública (SSP), se dedica à identificação e prevenção de delitos online.
Operando 24 horas por dia, a equipe do Noad é composta por policiais civis que monitoram redes sociais, jogos digitais e fóruns, além de contar com o apoio de policiais militares e peritos digitais. A missão é detectar e intervir em casos de risco antes que ocorram crimes como estupro virtual, automutilação induzida, incitação ao suicídio e distribuição de pornografia infantil. A equipe também monitora ameaças e planos de ações terroristas.
LEIA MAIS: ‘Adolescente sozinho no quarto com o celular na mão não está seguro’, alerta delegada de SP
Até agora, além das 312 vítimas salvas, foram realizadas 42 prisões, com 118 adolescentes sendo apreendidos e com internações decretadas, além de 127 solicitações para intervenções em outros estados. “Temos policiais civis atuando como observadores digitais, capazes de acompanhar em tempo real as atividades nas redes sociais”, explicou Lisandrea Colabuono, coordenadora do núcleo.
Um exemplo da atuação dos “observadores digitais” ocorreu nesta segunda-feira (3), quando o Noad detectou um menor de 13 anos planejando um ataque com facas em uma escola na Zona Sul da capital. O plano foi frustrado após vigilância de um grupo suspeito nas redes sociais, resultando na apreensão do menor e a confiscos de celulares, um notebook e duas facas.
Os agentes do Noad trabalham de forma discreta em comunidades e grupos suspeitos, coletando informações e alertando as forças de segurança quando há risco iminente. Segundo Lisandrea, o monitoramento em tempo real é fundamental para oferecer respostas rápidas que podem salvar vidas. “Há casos em que conseguimos alertar os pais durante a madrugada para que intercedessem antes que um crime acontecesse. Essa intervenção imediata é crucial”, afirmou.
LEIA MAIS: Polícia Civil de SP realiza operação contra quadrilha de receptação de celulares roubados
As operações do núcleo variam entre ações preventivas e repressivas. Além de detectar comportamentos suspeitos, o grupo elabora relatórios de inteligência que fundamentam pedidos de busca, prisão ou internação por parte da Justiça. Esses relatórios também ajudam a rastrear fluxos financeiros associados à venda de conteúdo ilícito e a identificar responsáveis por redes que exploram sexualmente menores.
A primeira ação do Noad, chamada Operação Nix Oculus Legis, foi realizada no final de 2024 e resultou em prisões e buscas em cinco estados (São Paulo, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal), desarticulando grupos envolvidos na comercialização de material de abuso infantil.
Política contínua de proteção
O Noad opera na sede da Secretaria de Segurança Pública no centro de São Paulo, e em um ano tornou-se um modelo a ser seguido por outros estados, devido à sua integração entre inteligência policial, tecnologia e ações de prevenção social.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, ressaltou que o núcleo surgiu como resposta a tragédias e se transformou em uma política duradoura de proteção. “Essa iniciativa foi criada após o ataque à escola em Sapopemba, com a intenção de evitar que mais famílias passassem por essa dor. O trabalho do Noad salva vidas”, afirmou.
O núcleo também desenvolve programas de educação digital e conscientização, realizando palestras em escolas e promovendo ações que envolvem pais, professores e adolescentes. “As crianças não devem ter acesso ilimitado às telas. Nenhum software de controle substitui a presença dos pais”, alertou Lisandrea.
LEIA MAIS: PM intercepta ônibus de viagem e prende casal que transportava 23 quilos de cocaína
A delegada enfatizou que a responsabilidade começa dentro de casa: “Muitos conteúdos encontrados em celulares apreendidos não vêm de sites impróprios, mas de fotos postadas pelos próprios pais, como imagens de crianças de biquíni ou dançando. Há uma necessidade urgente de responsabilidade, pois os predadores estão à espreita em todos os lugares e não precisam sair de casa”, explicou.
Atualmente, o Noad mantém centenas de alvos sob monitoramento constante, expandindo sua atuação em colaboração com o Ministério Público e as forças policiais. “Vidas estão sendo salvas. O Noad é uma política pública de proteção que combina tecnologia, investigação especializada e educação comunitária”, reiterou Derrite.
Compreendendo os riscos online e como fazer denúncias
Lisandrea destacou que os perigos estão presentes no ambiente digital e não podem ser ignorados. “É essencial que os pais fiquem atentos ao que seus filhos consomem online, o que os interessa nas redes sociais e quais sites visitam. Isso é crucial para a segurança”, afirmou. Ela alertou que a exposição indevida pode transformar crianças e adolescentes em vítimas de crimes como cyberbullying, automutilação induzida e abuso sexual virtual.
A delegada reafirmou que estar em casa não garante proteção no mundo digital. “Um adolescente sozinho no quarto com um celular não está seguro”, alertou. Comparou a importância dos cuidados online às antigas recomendações de não falar com estranhos nas ruas, ressaltando que essa precaução deve se estender às redes sociais e jogos virtuais.
Ela também aconselhou os pais a manter um diálogo constante com os filhos, ressaltando que nem todos que interagem online são amigos e que é fundamental ter ceticismo em relação a abordagens suspeitas.
A chefe do Noad também esclareceu como proceder em situações suspeitas. Pais, responsáveis ou vítimas devem se dirigir a uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência ou utilizar o Disque Denúncia.

Leave a Comment